Já tudo foi comentado acerca da vitória de Salvador Sobral no Festival da Eurovisão no passado sábado. Um marco único na história do nosso país e no reconhecimento da música portuguesa cantada em português - agora somos também os melhores aqui, indo ao encontro do futebol, da religião e de importantes cargos políticos representados por portugueses. Provavelmente nunca mais iremos replicar este acontecimento e por isso torna-se importante que o mesma seja então aproveitado.
Créditos: Miguel Santos (Sumol Summer Fest'16)
A música portuguesa sempre quis ser exportada, de forma individual ou coletiva. Portugal é um país que só agora começou a ter uma entidade que aglutina os artistas e agentes, o projeto WhyPortugal com o aval do AICEP / Europa Criativa e de um novo olhar na importância desta área mas ainda longe de se poder indicar que este se comporta como um Export Office de forma constante e não apenas por projeto. É um começo e que teve sucesso no Eurosonic e SXSW do corrente ano. Sempre achámos que para exportar algo ou para sermos notados tínhamos que nos cingir às regras dos outros, exceção feita ao Fado. Mas o nosso produto é tão melhor quanto mais genuíno se apresenta, tal como os irmãos Sobral o fizeram perante o mundo. Se Buraka Som Sistema, Noiserv, Paus ou The Legendary Tiger Man conseguiram ter bom sucesso internacional fruto da sua diferença no panorama musical independentemente de comporem maioritariamente em Inglês, outros projetos houve que não conseguiram sobressair-se ficando a questão se conseguiriam ser notados e marcar a diferença se o fizessem na sua língua materna.
Temos um ano para receber a Eurovisão em Portugal (mais um grande evento que conseguimos ter a nível de broadcast global depois dos MTV Europe Music Awards) e até lá temos mais holofotes neste nosso produto e perceber se foi apenas um "tiro de sorte", se apenas houve espaço para um novo artista português ou se de facto a nossa música poderá também ficar a ganhar como um todo e ter maior representatividade no exterior ou no próprio país. Os festivais e municípios já há muito que apostam em ter mais artistas portugueses nos seus programas culturais - o número de artistas é também maior e mais diverso hoje do que há meia dúzia de anos. Falta, nós portugueses, termos orgulhos do nosso produto, da nossa música, não a querendo ver apenas quando é de "entrada livre" ou quando custa menos que uma cerveja enquanto para um produto musical internacional pagamos sem questionarmos pelo mesmo.