"Dos grandes clássicos, à ópera de vanguarda, sempre a pensar em chegar a todos os públicos, com formatos variados, em recintos ao ar livre e em sala, o OperaFest assume como principal missão projectar esta forma de arte total no futuro, com uma programação cruzada e ultra abrangente, com novas encomendas, novos desafios, novas histórias, novos compositores e principalmente novas óperas reflectindo sobre o mundo de hoje!" é assim que se apresenta este novo festival português, a realizar-se em tempos de pandemia logo na sua edição de estreia, e que tem como objetivo colocar a Ópera como estilo presente em Portugal no roteiro dos festivais e que nos permita assim estarmos mais aproximados daquilo que se passa na restante Europa. Falámos com a sua diretora e mentora, Catarina Molder.
APORFEST: Qual a ideologia por detrás do OPERAFEST e o que se propõem comunicar?
Catarina Molder: O Operafest pretende ser uma Festa da ópera na cidade, colocando finalmente Lisboa e Portugal na rota dos Festivais de Ópera de Verão europeus com um projecto inovador que cruza tradição e vanguarda, aposta em formatos e parceiros de programação variados,para a dinamização do mercado lírico nacional e uma clara aposta no talento e na ópera do futuro, com uma programação abrangente ao encontro de todos os públicos.
Como foi pensada a programação para esta edição de estreia?
Uma programação que cruza tradição e vanguarda, sob o tema unificador da traição e do engano “quanto pior melhor”, ou seja, na ópera quanto mais trágico melhor. A programação organiza-se por ciclos. Grandes clássicos, em grandes cenários, neste caso o Jardim do Museu Nacional de Arte Antiga, um Jardim do Éden com vista para o rio, recebe a Tosca de Puccini e ainda uma Gala de ópera com o tenor mexicano em ascensão internacional Rodrigo P Garulo, um concurso de ópera contemporânea – Maratona Ópera XXI e ópera satellite, propondo novos olhares e cruzamentos com uma Rave operática que ainda acontece no Jardim do MNAA e depois então nas Carpintarias de São Lázaro conferências, um debate e ainda Cine-ópera, versões cinematográficas emblemáticas de grandes óperas.
O festival estava pensado antes da atual situação que estamos a viver? Sim estávamos prontos para arrancar com promoção a 16 de Março e venda de bilhetes, quando entrámos em confinamento e por isso esperámos um pouco mais.
Como fizeram a adaptação do mesmo e porque decidiram avançar para a sua realização neste ano atípico para profissionais e público que assiste a cultura? Aguardámos, sempre pensando em possíveis cenários, já que acontecíamos no final do Verão. Finalmente no início de Junho quando as medidas de distanciamento ficaram mais estruturadas e coerentes, decidimos avançar. Vários pontos de programação tiverem de cair e número de récitas, estávamos a contar com uma grande percentagem de público turista, já que a ópera é um produto internacional e tudo isso teve de ser reposicionado e repensado, porque plateias cortadas a pelo menos 50% colocam em causa a viabilidade dos eventos. Temos um orçamento muito reduzido, 65% do nosso orçamento vem de retorno de bilheteira e de capital próprio e somos ambiciosos no nosso projecto artístico. Somos o único festival de ópera europeu que nasce neste ano covid e dos poucos que acontecerão neste Verão.
Como realizaram a comunicação do vosso festival?
Como tínhamos um orçamento quase nulo, apostámos em parceiros com os quais já temos relações de trabalho e também o facto de termos um produto inovador, de autêntico serviço público, faz com que os parceiro adiram, porque é uma questão de dever. Este Festival pretende criar riqueza, quase do nada, potenciar o talento português, dinamizar o mercado operático nacional, contribuir para a renovação do repertório e do público da ópera, que é tão urgente, apostando na dignificação do trabalho jovem. Mais de 50% dos nossos colaboradores são jovens entre 20 e 25 anos ultra talentosos. Não temos estagiários não remunerados ou voluntários, toda a gente que trabalha é paga. Também não queremos merchandising que produza lixo, queremos ir ao essencial e contribuir para proteger o nosso planeta da acção nefasta humana É um festival que tem uma componente fundamental de serviço público. Para mim só faz sentido realizar projetos que gerem riqueza em várias frentes, que façam crescer talento, que é a nossa maior riqueza.
É um princípio para manter nas futuras edições ou irão alterar? Irão apenas basear-se na captação do público nacional ou internacional?
A ópera é um produto internacional. Quem gosta de ópera no Verão faz férias por esta Europa fora, seguindo as propostas de vários festivais. O público da ópera é internacional por excelência. Na ópera cabem todas as línguas, nacionalidades, culturas, é mesmo uma forma de arte total!
Como se diferencia o vosso festival de outros mais eruditos ou clássicos que existem no panorama nacional?
Não existe nenhum festival de ópera em Portugal. Aliás Lisboa e Portugal, são a capital e o país que menos ópera apresenta e produz de toda a União Europeia. Este Festival a nível internacional diferencia-se pela grande abrangência de programação, vamos dos grandes clássicos como a Tosca e Puccini até a um concurso de ópera contemporânea ou a um formato que mistura o mundo pop e a ópera, com uma rave operatica. E por sua vez, abrangência de público. Não é um festival de ópera de nicho, nem para aqueles que só querem ver a tradição ou para os que só querem a ópera contemporânea, pretende cruzar públicos, gostos, idades, locais parceiros de programação e jogar com formatos variados, uma festa da ópera pela cidade, que de futuro quer apostar em parcerias também internacionais. Queremos o entusiamo e juventude do festivais de música pop, na ópera!
De que forma a APORFEST - Ass. Portuguesa Festivais Música e os seus eventos principais (Talkfest e Iberian Festival Awards) podem ser importante no desenvolvimento do vosso festival? A união faz a força, a variedade também, é bom estar em diálogo com todo o tipo de festivais de música e das artes do espectáculos e criar ligações com tudo e com todos!