Ao longo destes últimos anos, ainda num tempo pré pandemia COVID 19, temos assistido a um número elevado de bandas a retomarem atividade após separações ou anos de paragem, para atuações especiais em festivais e tours comemorativas.
Mas, o que será que realmente motiva estas bandas a retomar a sua atividade?
Dum ponto de vista mais superficial, as justificações de natureza nostálgica e/ou financeira saltam à vista.
Artistas nacionais como Da Weasel e Ornatos Violeta, ou até mesmo D’zrt ou Excesso, que marcaram fortemente o público durante o seu período de atividade inicial, são exemplo de como a nostalgia de fãs se pode converter em retorno financeiro.
Pelo mundo, casos como o regresso de Duff e Slash aos Guns’N’Roses, os Black Sabbath terem reunido Ozzy, Tony e Butler, o mais recente anuncio de que Tom DeLonge está de novo com Blink 182, o estrondoso regresso dos Rage Against The Machine ou mesmo a tour de reunião de Pantera no Knotfest, lendária banda do Groove Metal, levantam especulações e questões sobre o porquê destas decisões.
Numa análise mais profunda caso a caso, podemos observar certos padrões.
Em certas subculturas e géneros musicais mais à margem da indústria mainstream, como é o caso da música mais pesada ou do certos subgéneros de Rap e Hip Hop, estamos a passar por uma fase de reapreciação de artistas que, ao serem influência direta ou indireta de bandas com sucesso nos nossos dias em meios mais mainstream, recebem o devido crédito e acabam por ganhar toda uma nova apreciação e relevância pelo seu contributo artístico num determinado meio. O próprio ressurgimento de certos estilos musicais e da popularidade dos mesmos, acaba por ser em si uma razão para certas reuniões.
Exemplos disso no nosso país seriam bandas como Deadly Mind, banda de Punk Hardcore da Margem Sul que após quase 20 anos voltaram ao ativo, lançando o único álbum em 25 anos de banda, tocando em festivais alternativos pelo país e abrindo para bandas estrangeiras.
Outro exemplo seriam os Devil In Me, também do mesmo espectro musical. Após o seu regresso em 2019 já realizaram tours europeias, lançaram disco novo e tocaram em alguns dos maiores festivais do universo Punk/Hardcore da península ibérica (como o Resurrection Fest).
Pelo estrangeiro, bandas como Snapcase, Disembodied, Trapped Under Ice, entre outras, viram o ressurgimento da popularidade de géneros como o Metal, Punk e Hardcore como uma oportunidade para tocar de novo. Creditado a bandas como Code Orange, Knocked Loose e Turnstile, este pico de popularidade da cultura Punk Hardcore tem sido um catalisador para que cada vez mais bandas recebam o devido crédito pelo seu trabalho artístico e obra musical.
Fazendo a ponte para um nível mais mainstream da indústria, com duas bandas que foram inequivocamente relevantes no seu tempo, falemos da relação dos Da Weasel com o Rap e dos Ornatos Violeta com Indie/Alternativo e a maneira escolhida por ambas as bandas de fazerem os seus concertos de reunião. Artistas que influenciaram uma geração de artistas depois de si, ambas as bandas escolheram palcos como o do NOS Alive para o seu regresso, apesar dos Ornatos terem feito quatro concertos em 2012, no Paredes de Coura e nos Coliseus do Lisboa, Porto e Micaelense. No caso dos Da Weasel, um grupo que se distingue pela fusão de géneros e elementos na sua música, a enorme antecipação por parte de fãs que esperaram 12 anos pelo acontecimento, tornou o momento especial e extremamente intenso.
De que modo é que estes acontecimentos podem, representar mais valias para os festivais?
Dum ponto de vista sociológico, estes acontecimentos geram o que foi descrito por Pierre Bourdieu (sociólogo francês) como Capital Cultural, uma teoria que confere às experiências culturais um valor que pode representar um certo estatuto. A isto junta-se um certo fear of missing out no que toca a ter uma oportunidade, quem sabe única, de ver uma banda que poderá nunca mais tocar de novo.
Exemplo disso foi Ornatos no Meo Marés Vivas e Festival F em 2019, esgotando a noite em que atuaram.
Todos estes fatores juntos geram um elevado número de press/PR que beneficia em muito a divulgação e imagem dos festivais que recebem estas bandas, contribuído de forma direta e/ou indireta para um maior número de vendas. A acrescentar a isto fica também o facto destas edições entrarem na história da música, das bandas, dos festivais e acima de tudo, dos fãs.
Para festivais com uma programação mais direcionada para a curadoria artística ou para o investimento em novos talentos, estas ocasiões são excelentes para dar palco a projetos musicais jovens e menos conhecidos, merecedores da oportunidade e da divulgação.
Fazendo um balanço dos pontos observados acima, o fenómeno das band reunions pode apresentar inúmeras vantagens para o setor dos festivais, quando bem aproveitado. Tirar partido destas oportunidades pode levar um novo público a festivais, solidificar a posição dos mesmos no panorama nacional e destaca-los como marcos culturais para o público nacional e internacional. Investimentos que se podem mostrar benéficos. Com festivais para todos os gostos, haverá certamente espaço para mais regressos de sucesso no nosso país.
De modo geral, podem representar oportunidades únicas para o enriquecimento de fãs e festivais, que numa relação simbiótica, crescem juntos.
Referências Bibliográficas:
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Malheiro, J. (2019) A noite de culto a Ornatos Violeta num Marés vivas esgotado, JPN. Available at: https://www.jpn.up.pt/2019/07/21/a-noite-de-culto-a-ornatos-violeta-num-mares-vivas-esgotado/ (Accessed: December 28, 2022).
Vieira, M.R. and Carmo, R. (2022) E voltaram mesmo. Da Weasel Tomaram O nos alive de Assalto, um arrepio de cada vez, Jornal Expresso. Expresso. Available at: https://expresso.pt/blitz/2022-07-09-E-voltaram-mesmo.-Da-Weasel-tomaram-o-NOS-Alive-de-assalto-um-arrepio-de-cada-vez-2c439f84 (Accessed: December 28, 2022).
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