A 3ª edição do Operafest Lisboa começou na pretérita 5ªfeira e decorrerá ao longo de um mês com várias apresentações, onde como o seu naming indica a Ópera é o estilo musical que comanda o festival. Se bem que os festivais de música estão cada vez mais a experienciar novas partilhas e fusões este é ainda o único festival 100% dedicado à Ópera. Com ele vem a vontade, encabeçada pela diretora Catarina Molder, de o fazer chegar a novas públicos tanto a nível nacional como a nível internacional. Uma estratégia de dotar a cidade de Lisboa com forte programação cultural na época da silly season e assim destacar-se. Ouvimos assim a sua diretora nos intervalos de produção deste festival.
1. Está quase a começar o regresso do Operafest Lisboa. Uma grande evolução em termos de envolvimento de parceiros, dias de festival e artistas O que podemos esperar?
Repetindo a duração do ano passado, podem esperar um mês de grande ópera num cenário mágico, com uma programação vibrante e variada ao encontro de todos os públicos e gostos para levar a ópera para mais próxima do mundo e do público de hoje! Com o mote do destino em vertigem, o destino ao qual não se pode escapar cruzando grandes clássicos (Um Baile de Máscaras de Verdi 19 a 26 Ago) com ópera de vanguarda, apostando na ópera na gaveta e em novos encenadores (Ópera Express para Novos Encenadores e estreia absoluta da ópera Minotauro, 6 Set), fazendo descobrir compositores e ópera menos conhecidas do grande público
(Noite Americana: Labirinto de Gian-Carlo Menotti em estreia nacional e Uma partida de Bridge de Samuel Baber, duas autênticas pérolas operáticas, 27 e 28 Ago) ou o arranque do ciclo Público do futuro para sensibilizar as crianças ópera com a maravilhosa ópera sobre um menino peixe Jeremias Fisher , 1 a 3 Set) a ópera desarmante de António Chagas Rosa “O Homem dos Sonhos” e uma Rave operática Baile de Máscaras para desafiar o destino que cruza mundo pop e ópera propondo a catarse da máscara (10 Set). Quem quiser despertar o cantor de ópera que há em si, pode apostar nas aulas de canto para curiosos da Máquina Lírica (27 e 28 Ago). Uma coisa é certa no Operafest a ópera serve-se com muita adrenalina!
2. Como surgiu a ideia de realizar este festival?
Eu sou a “culpada” disto tudo! O Operafest é a materialização de um projecto há muito por mim sonhado e lutado, que alia várias necessidades, por um lado a falta de oferta operática a nível nacional e mesmo em Lisboa, a capital europeia que menos ópera apresenta, o período de Verão em Agosto em que os teatros estão fechados e a cidade carece de oferta cultural e finalmente colocar Lisboa e Portugal na Rota dos festivais internacionais de ópera com um
Festival “fora da caixa” que marca a diferença pela variedade de programação e públicos. Esteve 5 anos em gestação antes de eu arriscar no início da pandemia, no Verão de 2020, de levá-lo para a frente no maravilhoso Jardim do Museu Nacional de Arte Antiga, se não fosse o MNAA o Operafest não existia. Somos único festival de ópera português e em apenas dois anos obtivemos excelente críticas internacionais que assumem o Operafest como um festival fora da caixa europeu, chegámos a públicos que as restantes instituições que apresentam ópera na cidade normalmente não chegam, estando esse fenómeno a ser objecto de estudo por alunos de doutoramento da Universidade Nova e trouxemos um dinamismo inédito ao mercado nacional.
3. Esta 3ª edição fica a ideia que a comunicação e o modo como desconstroem serve para chegar a diferentes públicos e estes terem o contacto com a ópera e a sua história?
Sempre foi e é uma prioridade nossa comunicar a ópera da forma mais rica e dinâmica possível, é a única forma de a abrir a novos públicos e continuar a reinventá-la.
4. Que desafios vos têm surgido e como dão a volta?
Falta de financiamento. Temos todos os sonhos do mundo, uma capacidade enorme de mobilização e de conseguir mundos quase do nada, mas sem ovos não se fazem omeletes, a qualidade paga-se...
5. Onde perspetivam posicionar o vosso festival a curto-médio prazo nos próximos anos?
Dado a sucesso em termos de qualidade e inovação que temos tido, esperamos atrair mais parceiros que nos permitam fazer crescer o festival, também em termos internacionais.
6. Como trabalham, formam e fidelizam o vosso público?
Com uma programação variada, surpreendente e dinâmica ao encontro de gostos, objetivos e afinidades várias que propõe descobertas múltiplas, com criativos que propõem encenações estimulantes, com uma imagem e uma comunicação desempoeirada e sem complexos ou tabus! Ópera é vida.
7. Em que patamar se encontram os vossos restantes projetos da Ópera do Castelo?
A Ópera do Castelo como estrutura de produção de ópera em formatos variados e inovadores, está sempre a ir por novos caminhos e aventuras, estamos a preparar uma série de ficção televisiva com ópera, novas encomendas de óperas a compositores que acreditamos que fazem a diferença, e respectiva circulação. Queremos aumentar o nosso potencial de parcerias internacionais com os vários projectos que lançamos que são bastante diferenciadores.
8. É fácil programar e realizar algo com receita de bilhética no vosso caso?
Não, é um risco e sofrimento diário. Somos um festival de ópera independente, temos um lado muito vincado de serviço público na divulgação que fazemos da ópera, na formação de novos públicos, novos intérpretes, novos criativos, somos um palco que aposta a 100% no talento nacional. Não somos um festival comercial o nosso produto
não é nem pouco mais ou menos tão vendível como um festival pop-rock, mas apresentamos valor acrescentado para o país, daí que é fundamental termos mais meios para também podermos apostar em mais promoção e também internacional. Temos de conquistar mais apoio estatal e continuar a tentar ter parcerias com o Turismo de Portugal, porque a ópera move turismo e como acontece nos festivais de ópera internacionais que têm fortes financiamentos dos turismo local e nacional, mas o preconceito e desconhecimento em relação à ópera ainda é muito grande... No entanto, o nosso público inclui cada vez mais público turista de modo que este ano as legendas dos espetáculos serão em português e inglês, precisamente para permitir a fruição máxima de todos os públicos.
9. De que forma enquanto APORFEST e os seus eventos principais (Talkfest e Iberian Festival Awards) te têm ajudado no desenvolvimento do teu trabalho?
É fundamental estarmos unidos, na nossa diversidade, sabermos o que os outros fazem, para fazermos cruzamentos, para chegar a outros públicos, estou sempre curiosa.
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